No Novo Testamento grego encontramos formas do verbo hermeneuein, cujo significado é precisamente “interpretar”, “explicar”. Veja-se, por exemplo, Lc 24.27, em que o autor diz que Jesus “explicava” aos discípulos que estavam a caminho da aldeia de Emaús aquilo que dizia respeito a ele nas Escrituras. O Jesus lucano confere um novo sentido às palavras do Antigo Testamento e assim o interpreta tomando como chaves de compreensão a sua vida, a sua morte e a sua ressurreição (v. 26).
Hermeneuein dá origem à palavra “hermenêutica” em nossa língua portuguesa. Ela faz parte do vocabulário de algumas áreas do conhecimento, a saber, a Teologia, a Filosofia, a Linguística, a Literatura e o Direito. Designa a arte e a ciência da interpretação de textos. Hermenêutica é arte porque implica o exercício da criatividade do(a) intérprete no manejo do instrumental técnico para alcançar uma compreensão do que se lê. Hermenêutica é ciência porque opera a busca pelos sentidos de um texto mediante a utilização de metodologias científicas de análise. Não há espaço para fazer uma exposição das perspectivas hermenêuticas que têm sido sugeridas atualmente e a partir das quais se pretende ler a Bíblia e “escutar” o que ela tem a dizer para o mundo de hoje. Embora considere fundamental que você, leitor(a), busque conhecer tais propostas, não é o meu objetivo ocupar-me delas neste artigo. O que quero é apenas pensar rapidamente sobre um aspecto importante no que se refere ao entendimento do conteúdo da Bíblia.
Os livros bíblicos foram escritos com finalidades específicas. Isso significa que os diversos textos que os compõem foram elaborados e organizados de modo a favorecer a compreensão das intenções com que os seus autores os produziram e deram forma a eles. Não se pode, portanto, desviar da tarefa de ler e compreender bem TODO UM LIVRO BÍBLICO caso se queira entender suas partes menores. É necessário prestar bastante atenção às expressões que orientam diretamente para o objetivo do livro, bem como às frases ou ideias que se repetem.
No livro do Gênesis, por exemplo, é comum deparar-se repetidas vezes com as expressões “eis as origens de”, “este é o livro da genealogia de”, “esta é a história de”. Por meio delas, podemos supor que esse livro quer esclarecer aspectos ligados ao estabelecimento de determinadas realidades, ao surgimento de certa variedade de nações ou aos registros “biográficos” a respeito de indivíduos específicos. Deve-se sempre lembrar que tais informações querem principalmente fundamentar conceitos sociais e religiosos familiares aos leitores que pela primeira vez receberam o livro. Observe como a narrativa da criação de Gênesis 1.1 – 2.4a confere uma razão teológica para a organização social e religiosa apresentada em Êxodo 20.8-11 (cf. Dt 5.12-15) e 31.12-17. Trabalhar seis dias e descansar no sétimo seria como reviver o próprio acontecimento da criação: “Eis as origens do céu e da terra quando foram criados” (Gn 2.4a).
O propósito do Evangelho de João está exposto de forma bem clara no final do livro: “Jesus, na verdade, operou na presença de seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos neste livro; estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.30-31). Se tiver um olhar atento, o(a) leitor(a) perceberá ao longo de toda a obra este convite a crer em Cristo como o enviado de Deus que dá a vida eterna àqueles que aderem à sua mensagem.
O livro dos Atos dos apóstolos já de início elucida a proposta teológica e o itinerário narrativo que irão condicionar a estrutura do conteúdo apresentado: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8). O livro mostra como o dom do Espírito Santo tornou judeus (cap. 2), samaritanos (cap. 8), romanos (cap. 10), os discípulos de João em Éfeso (cap. 18) unidos sob a fé em Cristo. Apresenta também o crescimento do evangelho começando em Jerusalém (cap. 1 – 7), atingindo outras regiões da Judéia e passando pela Samaria (cap. 8 – 12), estendendo-se até à Ásia menor (cap. 13 – 20) e chegando em Roma (cap. 21 – 28).
Para compreender, portanto, uma passagem bíblica, deve-se examiná-la à luz do contexto do livro ao qual ela pertence.
Hermeneuein dá origem à palavra “hermenêutica” em nossa língua portuguesa. Ela faz parte do vocabulário de algumas áreas do conhecimento, a saber, a Teologia, a Filosofia, a Linguística, a Literatura e o Direito. Designa a arte e a ciência da interpretação de textos. Hermenêutica é arte porque implica o exercício da criatividade do(a) intérprete no manejo do instrumental técnico para alcançar uma compreensão do que se lê. Hermenêutica é ciência porque opera a busca pelos sentidos de um texto mediante a utilização de metodologias científicas de análise. Não há espaço para fazer uma exposição das perspectivas hermenêuticas que têm sido sugeridas atualmente e a partir das quais se pretende ler a Bíblia e “escutar” o que ela tem a dizer para o mundo de hoje. Embora considere fundamental que você, leitor(a), busque conhecer tais propostas, não é o meu objetivo ocupar-me delas neste artigo. O que quero é apenas pensar rapidamente sobre um aspecto importante no que se refere ao entendimento do conteúdo da Bíblia.
Os livros bíblicos foram escritos com finalidades específicas. Isso significa que os diversos textos que os compõem foram elaborados e organizados de modo a favorecer a compreensão das intenções com que os seus autores os produziram e deram forma a eles. Não se pode, portanto, desviar da tarefa de ler e compreender bem TODO UM LIVRO BÍBLICO caso se queira entender suas partes menores. É necessário prestar bastante atenção às expressões que orientam diretamente para o objetivo do livro, bem como às frases ou ideias que se repetem.
No livro do Gênesis, por exemplo, é comum deparar-se repetidas vezes com as expressões “eis as origens de”, “este é o livro da genealogia de”, “esta é a história de”. Por meio delas, podemos supor que esse livro quer esclarecer aspectos ligados ao estabelecimento de determinadas realidades, ao surgimento de certa variedade de nações ou aos registros “biográficos” a respeito de indivíduos específicos. Deve-se sempre lembrar que tais informações querem principalmente fundamentar conceitos sociais e religiosos familiares aos leitores que pela primeira vez receberam o livro. Observe como a narrativa da criação de Gênesis 1.1 – 2.4a confere uma razão teológica para a organização social e religiosa apresentada em Êxodo 20.8-11 (cf. Dt 5.12-15) e 31.12-17. Trabalhar seis dias e descansar no sétimo seria como reviver o próprio acontecimento da criação: “Eis as origens do céu e da terra quando foram criados” (Gn 2.4a).
O propósito do Evangelho de João está exposto de forma bem clara no final do livro: “Jesus, na verdade, operou na presença de seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos neste livro; estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.30-31). Se tiver um olhar atento, o(a) leitor(a) perceberá ao longo de toda a obra este convite a crer em Cristo como o enviado de Deus que dá a vida eterna àqueles que aderem à sua mensagem.
O livro dos Atos dos apóstolos já de início elucida a proposta teológica e o itinerário narrativo que irão condicionar a estrutura do conteúdo apresentado: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8). O livro mostra como o dom do Espírito Santo tornou judeus (cap. 2), samaritanos (cap. 8), romanos (cap. 10), os discípulos de João em Éfeso (cap. 18) unidos sob a fé em Cristo. Apresenta também o crescimento do evangelho começando em Jerusalém (cap. 1 – 7), atingindo outras regiões da Judéia e passando pela Samaria (cap. 8 – 12), estendendo-se até à Ásia menor (cap. 13 – 20) e chegando em Roma (cap. 21 – 28).
Para compreender, portanto, uma passagem bíblica, deve-se examiná-la à luz do contexto do livro ao qual ela pertence.
Um comentário:
Olá Ruben!!
Muito legal! Continue publicando os seus estudos no blog. Não precisa ser tudo de uma vez não. Vá colocando um, depois outro e, quando você se der conta, já terá um vasto arquivo digitalizado.
Um grande abraço,
Marcos Vichi
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