"Então, falando ele estas coisas em sua defesa, Festo disse em alta voz:
Estás louco, Paulo! As muitas letras te levam à insanidade!"
(Atos dos Apóstolos 26.24)

segunda-feira, novembro 03, 2008

Karen Carpenter

Enquanto almoçava, após as aulas da manhã, tive o prazer de ouvir, pela rádio sintonizada na pensão, "Close to you", da saudosa dupla "The Carpenters". Logo pensei em Karen, de quem minha mãe me falava quando era menino. Lamentavelmente, a bela e talentosa Karen Carpenter fora vítima de anorexia nervosa, vindo a falecer em 04 de fevereiro de 1983, com apenas 32 anos.
A melodia doce da composição me abençoava, levando-me também a um estranhamento: um dia todos nós não seremos mais que uma voz gravada ou um texto escrito ou uma lembrança no coração de alguém. Ainda que as ondas sonoras que emitimos viajem eternamente pela imensidão do universo, nossas expressões escritas atravessem os séculos, as nossas biografias sejam divulgadas pelas bocas das pessoas, será apenas nessas coisas que estaremos.
Restavam-me alguns minutos antes da aula da tarde e fui pesquisar a letra da música. Uma das estrofes diz:
Why do stars fall down from the sky
Every time you walk by?
Just like me, they long to be
Close to you
A tradução é a seguinte:
Por que as estrelas descem do céu
Toda vez que você passeia?
Assim como eu, elas querem estar
Perto de você
Na letra de Karen, as estrelas descem do céu e uma pessoa caminha sobre a terra. Ela é considerada especial por uma outra que perto dela quer estar. É como se a maviosa voz de New Haven profetizasse que as estrelas e nós, outrora poeira cósmica, queremos mais: desejamos ser e ser uns para os outros. Karen não voltou a ser poeira: tornou-se música que adverte contra a indiferença que nos aliena de nós mesmos, dos outros, das estrelas, dos pássaros, das flores.
"Close to you" é um magnífico e atualíssimo capítulo do Evangelho de Karen Carpenter.
Curiosamente, 32 anos é a idade que tenho.

domingo, novembro 02, 2008

Falar sobre Deus

Ao falar sobre Deus, estranho.
Este signo que uso, Deus,
É coisa que muda como muda tudo.
A gente muda, muda o deus da gente,
Ainda que haja muita gente dizendo haver sempre um só.
Deus, palavrinha que fala sobretudo de mim,
Da minha esperança que o Ser nunca se extingua
E os seres continuem a viver nele.
Todavia, se o Ser é o Deus do meu dizer
Permanecerei sem saber.
Minha teologia, com sua palavra Deus, é possível que toque o Ser.
O mais importante, porém, é que toque os seres.
O Ser permanecerá, a minha teologia e os seres passarão.
Que a minha teologia preserve os seres enquanto durarem
E eles sejam a sua inspiração o tempo que eu durar.
Desse modo, possa eu falar de fé, esperança, caridade e Deus.
Mas ainda me é estranho falar sobre Deus.