Desde ontem tenho estado a fim de escrever um texto hoje por ser o último dia do ano. Acredito ser a primeira vez que faço isso. Mas, sabem como é, essa mística toma conta da cabeça da gente, fazendo com que não deixe passar em branco a chance de fechar legal um ciclo mais na vida. E preciso me apressar, pois os fogos já estão estourando!
Admito, no entanto, que não está sendo fácil. O que vou dizer nessa ocasião que todo mundo já não saiba? Talvez elaborar resoluções de Ano Novo seja uma boa pedida. Convenhamos, todavia, que ninguém deve estar muito disposto a ficar lendo uma lista de metas que alguém fez, tendo em vista o ano que entra, quando cada um deve estar muito ocupado escrevendo a sua. Claro, o outro sempre pode dar umas idéias para a gente. Entretanto, acho que vocês querem ler algo mais interessante do que um punhado de coisas que estou querendo para 2008.
Em 2007, falei bastante sobre o que mais sei falar e o que mais complica a minha vida: a teologia. Sim, porque "teologar" é estabelecer referências que auxiliem a tornar a vida mais centrada e equilibrada. Bem, pelo menos deveria (?) ser assim. O que acaba acontecendo é que a teologia costuma trazer conflitos por mexer com o fundamento do ser. Trocando em miúdos, a teologia tenta pensar sobre aquilo em que a gente crê. Só que é perigoso pensar sobre isso, uma vez que, quando se trata da fé como uma referência de vida, há grande dificuldade em admitir que a realidade, de um modo geral, seja bem mais complexa do que a experiência particular de cada um. Quero dizer com isso que pensar teologicamente, ou seja, articular racionalmente a experiência da fé, significa descobrir que nossos referenciais se fazem de uma dobra do Sagrado sobre a existência humana mutável. E é da experiência que o Sagrado emerge, sendo percebido no(s) horizonte(s) de compreensão da(s) pessoa(s). Mas há muitas coisas que percebemos e inúmeras outras que nos escapam. Pelo que a teologia, se não a própria fé, surge como atividade dialética: as compreensões do que seja(m) o(s) sentido(s) da(s) existência(s) deveriam se iluminar mutuamente. Surge logo um porém: o problema da verdade. O modo como compreendo o que julgo ser o fundamento da existência se apresenta como a verdade para mim. Como a minha compreensão pode ser "a" verdadeira, no entanto, se há a compreensão do outro que ele sugere ser verdadeira da mesma forma? Perceberam a dificuldade?
Caso tenha aprendido direito do Hans Küng, teólogo alemão católico, se a fé tem a ver com a vida, então a verdade da religião deve estar relacionada com o modo pelo qual ela cuida da vida. Não se iludam: toda pessoa que crê acaba sistematizando essa fé de modo que possa viver a partir dela. Aí nasce a religião. Pois bem, praticar uma religião é acreditar. Acreditar que a vida tem sentido(s) e procurá-lo(s). Mais: fazer dessa procura um projeto de preservação da vida, em todas as suas formas. Para a consciência humana crente, portanto, a vida surge como um milagre proveniente de uma Consciência maior do que ela própria. E, para a consciência, o que há de mais elevado na existência do que uma consciência, oras?
A teologia trata de vida, de esperança. A esperança é aquilo que aposta no triunfo final da vida. Essa, talvez, seja a missão mais fundamental da fé: fazer-nos esperar, mesmo contra a esperança. A esperança, em grau maior ou menor, é que possibilita a preservação da vida. O que poderia ser, por exemplo, a luta das espécies pela própria sobrevivência que não uma manifestação de esperança, ainda que em menor nível de complexidade psicológica?
Bem, se tenho algo a dizer a mim mesmo e também a vocês é que, em 2008, a gente tente manter viva a esperança. Se temos fé, qualquer que seja ela, demos as mãos. Só é possível ter esperança quando a gente sabe que alguém nos acolhe. Crer não é, no final das contas, estar certo de que se é acolhido por Deus?
Feliz 2008!
Admito, no entanto, que não está sendo fácil. O que vou dizer nessa ocasião que todo mundo já não saiba? Talvez elaborar resoluções de Ano Novo seja uma boa pedida. Convenhamos, todavia, que ninguém deve estar muito disposto a ficar lendo uma lista de metas que alguém fez, tendo em vista o ano que entra, quando cada um deve estar muito ocupado escrevendo a sua. Claro, o outro sempre pode dar umas idéias para a gente. Entretanto, acho que vocês querem ler algo mais interessante do que um punhado de coisas que estou querendo para 2008.
Em 2007, falei bastante sobre o que mais sei falar e o que mais complica a minha vida: a teologia. Sim, porque "teologar" é estabelecer referências que auxiliem a tornar a vida mais centrada e equilibrada. Bem, pelo menos deveria (?) ser assim. O que acaba acontecendo é que a teologia costuma trazer conflitos por mexer com o fundamento do ser. Trocando em miúdos, a teologia tenta pensar sobre aquilo em que a gente crê. Só que é perigoso pensar sobre isso, uma vez que, quando se trata da fé como uma referência de vida, há grande dificuldade em admitir que a realidade, de um modo geral, seja bem mais complexa do que a experiência particular de cada um. Quero dizer com isso que pensar teologicamente, ou seja, articular racionalmente a experiência da fé, significa descobrir que nossos referenciais se fazem de uma dobra do Sagrado sobre a existência humana mutável. E é da experiência que o Sagrado emerge, sendo percebido no(s) horizonte(s) de compreensão da(s) pessoa(s). Mas há muitas coisas que percebemos e inúmeras outras que nos escapam. Pelo que a teologia, se não a própria fé, surge como atividade dialética: as compreensões do que seja(m) o(s) sentido(s) da(s) existência(s) deveriam se iluminar mutuamente. Surge logo um porém: o problema da verdade. O modo como compreendo o que julgo ser o fundamento da existência se apresenta como a verdade para mim. Como a minha compreensão pode ser "a" verdadeira, no entanto, se há a compreensão do outro que ele sugere ser verdadeira da mesma forma? Perceberam a dificuldade?
Caso tenha aprendido direito do Hans Küng, teólogo alemão católico, se a fé tem a ver com a vida, então a verdade da religião deve estar relacionada com o modo pelo qual ela cuida da vida. Não se iludam: toda pessoa que crê acaba sistematizando essa fé de modo que possa viver a partir dela. Aí nasce a religião. Pois bem, praticar uma religião é acreditar. Acreditar que a vida tem sentido(s) e procurá-lo(s). Mais: fazer dessa procura um projeto de preservação da vida, em todas as suas formas. Para a consciência humana crente, portanto, a vida surge como um milagre proveniente de uma Consciência maior do que ela própria. E, para a consciência, o que há de mais elevado na existência do que uma consciência, oras?
A teologia trata de vida, de esperança. A esperança é aquilo que aposta no triunfo final da vida. Essa, talvez, seja a missão mais fundamental da fé: fazer-nos esperar, mesmo contra a esperança. A esperança, em grau maior ou menor, é que possibilita a preservação da vida. O que poderia ser, por exemplo, a luta das espécies pela própria sobrevivência que não uma manifestação de esperança, ainda que em menor nível de complexidade psicológica?
Bem, se tenho algo a dizer a mim mesmo e também a vocês é que, em 2008, a gente tente manter viva a esperança. Se temos fé, qualquer que seja ela, demos as mãos. Só é possível ter esperança quando a gente sabe que alguém nos acolhe. Crer não é, no final das contas, estar certo de que se é acolhido por Deus?
Feliz 2008!
2 comentários:
Oi!!
Realmente às vezes ao ler alguma coisa eu me revolto mesmo... hehehehe... Mas que bom que você gostou do blog! Vou adicionar o seu também!
Feliz 2008!!
"Essa, talvez, seja a missão mais fundamental da fé: fazer-nos esperar, mesmo contra a esperança."
Isso é pra mim uma das coisas mais fascinantes que a fé desperta em nós, mas tabém é um dos desafios mais irracionais, huehue.
Às vezes me pergunto se a religião tem sido de fato pra mim um sistema de sentido(s). TEm coisas que parecem não fazer sentido nenhum...
Sobre esperar contra a própria esperança, gosto da concepção de Kant revisitada por Sartre do "agir sem esperança".
É isso ae,
Um abração,
pedro.
PS: adorei o texto sobre tempo... até mandei pra minha mãe...
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