Começo a falar agora da segunda dentre as virtudes teologais, que é a esperança. Palavra tão difícil, à luz das circunstâncias com as quais temos nos deparado ultimamente: violências contra crianças e adultos, catástrofes naturais, ameaça de extinção de espécies animais e vegetais, conflitos religiosos. Todavia, é possível encontrar consolo nas palavras do Apóstolo: “Não fixando a nossa atenção nas coisas que se vêem, porém nas coisas que não se vêem; porque as coisas que se vêem são transitórias, mas as que não se vêem são eternas” [1] (2Co 4.18). E Paulo continua: “Assim que, se alguém está em Cristo, é uma nova criação; as coisas antigas passaram. Vejam! Tornaram-se novas!” [2] (2Co 5.17) O contexto mostra que as palavras de Paulo refletem uma situação presente e uma expectativa escatológica. Isso quer dizer que Deus, por meio de Cristo, renovou e renovará todas as coisas. Sim, somos de Cristo! Mas permanecemos, ainda que temporariamente, na realidade antiga que caracteriza a humanidade desde a sua condição transgressora. Entretanto, a nova criação que começa com e por Cristo é o anúncio do triunfo escatológico do reinado de Deus, isto é, o estabelecimento final do domínio de Deus sobre o universo, expelindo definitivamente aquilo que provoca o mal e se opõe à vida. Percebo no querigma apostólico que “estar em Cristo” é incontornavelmente pôr em atividade os poderes do reinado de Deus para a transformação da realidade. “Porque ele deve reinar até que coloque todos os inimigos debaixo dos seus pés” [3] (1Co 15.25). E do que Paulo diz em seguida – “O último inimigo a ser destruído é a morte” [4] (1Co 15.26) –, pode-se considerar que esses inimigos representam forças contrárias à vida, sejam elas naturais ou espirituais.
De fato, os processos naturais de transformação da matéria e a luta das espécies pela sobrevivência são realidades complexas que não podem ser tratadas de qualquer modo. A morte, a dor, a imprevisibilidade, a dificuldade e a adaptação são fatores que compõem o nosso universo. Entretanto, a mensagem bíblica refere-se a um desequilíbrio ontológico, isto é, algo nos fenômenos naturais e percebido com mais clareza nas manifestações da consciência e ação humanas que sugere uma revolta contra o Deus da vida e a harmonia da sua criação boa. Pode-se dizer que a maneira com que o Novo Testamento expõe a vinda do reinado de Deus ao mundo – presente já, mas ainda não completamente manifesto – indica que nós que temos sido tocados pelo Espírito Santo somos responsáveis por cooperar com Deus para abençoar o mundo pelo poder do reinado divino; porém, e nisso reside a esperança cristã de modo fundamental, a reversão da hegemonia do pecado para introduzir um domínio pacífico, fraterno, universal e eterno da vida só poderá ser realizada pela ação exclusiva do Senhor Deus. Tendo isso em perspectiva, Jesus de Nazaré orava e eu preciso orar com ele: “Pai, (...) Venha o teu reinado!” [5] (Lc 11.2).
Um comentário:
Olá Ruben!
A esperança é fundamental para uma pessoa. Ela produz o sonho e a capacidade para sonhar traz sentido à vida. Quando deixamos de sonhar, perdemos a esperança, e, consqüentemente, a fé (outra virtude teologal).
Ao ler uma matéria do Jornal O Globo do dia 07/05/2007 onde o repórter perguntou à mãe daquela menina de 13 anos que foi morta no Morro do Macaco qual era o maior sonho da filha dela, a resposta foi: "Moço, que mora no morro não tem sonho não". Isto me trouxe a lembrança de que milhões de pessoas nas favelas de nossa cidade vivem sua vida apenas porque ainda não morreram. Elas não possuem nenhuma esperança.
Precisamos (como cristãos individuais e como igreja) levar a esperança do evangelho a estas pessoas. Como fazer isto? Eis o grande desafio.
Um grande abraço,
Marcos
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