O livro de Daniel é o único livro apocalíptico da Bíblia Judaica e do Primeiro Testamento cristão. Estima-se que ele tenha surgido no século II a.C. Para situá-lo em seu contexto histórico é preciso começar do conquistador macedônio Alexandre, o Grande.
Alexandre pretendia libertar os gregos do domínio dos persas. Suas conquistas foram desde a Ásia menor até as fronteiras da Índia. Quando Alexandre morreu (na segunda metade do século IV a.C.), o seu império foi dividido entre os seus generais. Somente dois deles interessam para a história bíblica, a saber, Ptolomeu e Seleuco. Ptolomeu assumiu o território do Egito e logo se apossou da Palestina. Seleuco tomou o controle da Babilônia e da Síria. Mais tarde, no início do século II a.C., a dinastia de Seleuco arrancou a Palestina das mãos dos governantes egípcios ptolomeus.
Posteriormente derrotado pelos romanos na Europa e na Ásia, o poder dos selêucidas entrou em decadência. As dificuldades financeiras, as pressões do Egito no sul e a constante ameaça de Roma levaram à adoção de medidas desesperadas para manter a unidade política entre os territórios dominados e providenciar sustento econômico. O governante selêucida na ocasião, Antíoco IV (175 – 164 a.C.), promoveu a cultura e a religião gregas e saqueou os tesouros de vários templos nativos. A resistência dos judeus diante das inovações de Antíoco (que deu a si mesmo o título “Epífanes” – o deus manifesto, o representante visível de Zeus) fez explodir uma perseguição violenta. As práticas religiosas judaicas, tais como a circuncisão, o sábado e as festas, foram proibidas sob pena de morte. O Templo de Jerusalém se tornou um local de sacrifícios para deuses estrangeiros.
O livro de Daniel foi escrito para os judeus que sofriam por causa da sua fé naqueles dias difíceis. Na primeira parte do livro (capítulos 1 a 6), o autor narra as experiências de Daniel, um judeu que vivera na Babilônia durante o exílio de seu povo no século VI a.C. Daniel e alguns companheiros têm a sua fé duramente testada pelos babilônicos e persas, mas superam as provas confiando no seu Deus. A esperança apocalíptica na soberania de Deus sobre a história dos reinos humanos está presente em todas as narrativas: “(...) o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer, e até o mais humilde dos homens constitui sobre eles” (Dn 4.17).
Na segunda parte (capítulos 7 a 12), são relacionadas com Daniel profecias sobre o plano da história que vêm a ele na forma de sonhos e visões. As revelações são feitas com o uso de vários símbolos. Eles descrevem a ascensão e a queda de quatro impérios sucessivos – babilônico, medo, persa e grego (capítulo 7), a vitória de Alexandre sobre os persas e a divisão do seu reino (capítulos 8 e 10), as medidas repressivas de Antíoco IV Epífanes (capítulo 9), as guerras entre os ptolomeus e os selêucidas, o fim de Antíoco IV Epífanes (capítulo 11), a libertação final dos judeus e a ressurreição dos justos (capítulo 12). A obra quer trazer consolo e paciência, assim também manter viva a fé na vitória definitiva do Deus judaico e seus eleitos. A mensagem de liberdade e ressurreição antecipa a proclamação do reino de Deus por Jesus e os seus apóstolos no Segundo Testamento cristão.
A versão do livro de Daniel conservada na Bíblia judaica foi elaborada em duas línguas. Os trechos 1.1 – 2.4a e 8.1 – 12.13 estão escritos em hebraico. O trecho 2.4b – 7.28 é apresentado em aramaico. Essa versão mais curta foi também adotada pelos cristãos protestantes.
A versão da Bíblia grega (a Septuaginta – LXX) destaca-se por conter material adicional: a oração de Azarias (3.24-45), uma perícope de transição (3.46-50), o cântico dos três jovens na fornalha (3.51-90), a história de Susana (capítulo 13) e a narrativa sobre Bel e o dragão (capítulo 14). O cristianismo católico considera canônicas essas adições gregas.
Sugestão de leitura:
NIEHR, Herbert. O livro de Daniel. In: ZENGER, Erich et alii. Introdução ao Antigo Testamento. Trad. Werner Fuchs. São Paulo: Loyola, 2003. Págs. 448-460. Coleção "Bíblica Loyola", n. 36.
Alexandre pretendia libertar os gregos do domínio dos persas. Suas conquistas foram desde a Ásia menor até as fronteiras da Índia. Quando Alexandre morreu (na segunda metade do século IV a.C.), o seu império foi dividido entre os seus generais. Somente dois deles interessam para a história bíblica, a saber, Ptolomeu e Seleuco. Ptolomeu assumiu o território do Egito e logo se apossou da Palestina. Seleuco tomou o controle da Babilônia e da Síria. Mais tarde, no início do século II a.C., a dinastia de Seleuco arrancou a Palestina das mãos dos governantes egípcios ptolomeus.
Posteriormente derrotado pelos romanos na Europa e na Ásia, o poder dos selêucidas entrou em decadência. As dificuldades financeiras, as pressões do Egito no sul e a constante ameaça de Roma levaram à adoção de medidas desesperadas para manter a unidade política entre os territórios dominados e providenciar sustento econômico. O governante selêucida na ocasião, Antíoco IV (175 – 164 a.C.), promoveu a cultura e a religião gregas e saqueou os tesouros de vários templos nativos. A resistência dos judeus diante das inovações de Antíoco (que deu a si mesmo o título “Epífanes” – o deus manifesto, o representante visível de Zeus) fez explodir uma perseguição violenta. As práticas religiosas judaicas, tais como a circuncisão, o sábado e as festas, foram proibidas sob pena de morte. O Templo de Jerusalém se tornou um local de sacrifícios para deuses estrangeiros.
O livro de Daniel foi escrito para os judeus que sofriam por causa da sua fé naqueles dias difíceis. Na primeira parte do livro (capítulos 1 a 6), o autor narra as experiências de Daniel, um judeu que vivera na Babilônia durante o exílio de seu povo no século VI a.C. Daniel e alguns companheiros têm a sua fé duramente testada pelos babilônicos e persas, mas superam as provas confiando no seu Deus. A esperança apocalíptica na soberania de Deus sobre a história dos reinos humanos está presente em todas as narrativas: “(...) o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer, e até o mais humilde dos homens constitui sobre eles” (Dn 4.17).
Na segunda parte (capítulos 7 a 12), são relacionadas com Daniel profecias sobre o plano da história que vêm a ele na forma de sonhos e visões. As revelações são feitas com o uso de vários símbolos. Eles descrevem a ascensão e a queda de quatro impérios sucessivos – babilônico, medo, persa e grego (capítulo 7), a vitória de Alexandre sobre os persas e a divisão do seu reino (capítulos 8 e 10), as medidas repressivas de Antíoco IV Epífanes (capítulo 9), as guerras entre os ptolomeus e os selêucidas, o fim de Antíoco IV Epífanes (capítulo 11), a libertação final dos judeus e a ressurreição dos justos (capítulo 12). A obra quer trazer consolo e paciência, assim também manter viva a fé na vitória definitiva do Deus judaico e seus eleitos. A mensagem de liberdade e ressurreição antecipa a proclamação do reino de Deus por Jesus e os seus apóstolos no Segundo Testamento cristão.
A versão do livro de Daniel conservada na Bíblia judaica foi elaborada em duas línguas. Os trechos 1.1 – 2.4a e 8.1 – 12.13 estão escritos em hebraico. O trecho 2.4b – 7.28 é apresentado em aramaico. Essa versão mais curta foi também adotada pelos cristãos protestantes.
A versão da Bíblia grega (a Septuaginta – LXX) destaca-se por conter material adicional: a oração de Azarias (3.24-45), uma perícope de transição (3.46-50), o cântico dos três jovens na fornalha (3.51-90), a história de Susana (capítulo 13) e a narrativa sobre Bel e o dragão (capítulo 14). O cristianismo católico considera canônicas essas adições gregas.
Sugestão de leitura:
NIEHR, Herbert. O livro de Daniel. In: ZENGER, Erich et alii. Introdução ao Antigo Testamento. Trad. Werner Fuchs. São Paulo: Loyola, 2003. Págs. 448-460. Coleção "Bíblica Loyola", n. 36.
Um comentário:
Olá Runben,
Espero aproveitar esse texto para mostrar para alguns dos meus alunos que ler a biblia sem entendê-la é como acumular informação sem ter conhecimento. Tenho medo do que possa acontecer com eles, uma vez que a bíblia já foi muito mal interpretada por líderes de todos os tipos e ainda pode causar conflitos intelectuais por conta de um dogmatismo que tanto nos tem feito mal.
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