Publicado originalmente no Facebook em 10 de abril de 2013.
Penso
que a crítica que se tem dirigido aos homossexuais confunde
comportamento e sexualidade. Sexualidade humana, que é inata, envolve
desejos e afetos que não se
restringem apenas à reprodução da espécie. Se assim não fosse, casais
heterossexuais fariam sexo apenas quando quisessem ter filhos. Em vez
disso, sabemos que a maioria das vezes que casais heterossexuais fazem
sexo é porque se amam (no caso daqueles que assumiram entre si um
compromisso) e/ou querem ter prazer. Trata-se de uma pulsão. O sexo
entre pessoas, portanto, não está, nunca esteve e nunca estará
circunscrito à procriação. Logo, não se trata simplesmente de uma
questão biológica, isto é, para dar continuidade à espécie. Sendo assim,
a ocorrência de relações homoafetivas como algo natural é perfeitamente
plausível, já que se trata de sexualidade, na qual "pode estar"
envolvida (no caso de um relacionamento heterossexual) a reprodução.
Comportamento se aprende e se exerce livremente. Um comportamento pode,
por exemplo, dar expressão visível a sentimentos de amor ou de
violência, de perdão ou de vingança, de respeito ou de intolerância.
Tanto um heterossexual quanto um homossexual podem, por exemplo, no
exercício de sua sexualidade, "comportarem-se" de forma respeitosa ou
invasiva, responsiva ou brutal. A sexualidade humana é inata, mas uma
pessoa pode "aprender" que uma via de orientação essencial do desejo
sexual é "certa" e outra "não é". Em outras palavras, pode-se considerar
"comportamental" aquilo que é inato e natural quando, ao contrário, o
comportamento aprendido pode concretizar, de forma saudável ou nociva,
pessoal e socialmente, o impulso sexual natural, que, no caso humano,
transcende a simples função de reprodução biológica.
Tem-se criticado
o(a)s homossexuais na essência da sua sexualidade e, por conseguinte, em
sua luta pelos direitos decorrentes de sua pulsão inata. É como
criticar um heterossexual pelo mero fato de ele(a) ser heterossexual. A
meu ver, não há esse negócio de ditadura gay. O que há é gente que não
aceita que o(a)s homossexuais vivam a sua sexualidade na esfera social,
tachando-a de puro "capricho ou desvio comportamental". Além do mais, a
Constituição Federal garante a hétero e homossexuais a proteção de suas
liberdades individuais. E desse modo, segundo entendo, o exercício livre
da sexualidade humana, que é inata, é resguardado dentro dos limites
impostos pela lei.
No campo do pensamento humano, convicções políticas e
convicções religiosas, bem como ações sociais delas decorrentes, podem e
devem ser objeto de crítica, entendida crítica como liberdade para
discutir e, então, acolher ou repudiar. Convicções políticas e
convicções religiosas, porém, são criação humana. Ainda que
compreendidas pelos que as adotam como as mais adequadas ou mesmo
reveladas por uma ou mais divindades, seu desenvolvimento, articulação e
expressão continuam sendo produto do pensamento humano, que é plural e
cultural. Sexualidade, embora possa ser moldada pela cultura (e aí entra
o "comportamento"), é uma dimensão da essência humana que há muito
transcendeu a simples reprodução biológica. O que está em questão parece
ser muito mais uma tentativa de cerceamento político da liberdade dos
gays de exercerem sua sexualidade (enquanto constituição essencial do
seu ser) no âmbito civil.
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