Apresentei esta "prédica" na Paróquia Evangélica Espírito Santo, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB), em Novo Hamburgo (RS), no dia 04 de outubro de 2009, convidado pela Pastora Carla Saueressig, com quem vou casar.
INTRODUÇÃO
Uma pergunta importante deve estar presente durante toda a vida de um cristão: “Quem é Deus?” Mais do que uma questão filosófica, essa pergunta tem a ver com aquilo que faz de alguém um cristão realmente. Jesus deu respostas fundamentais. “Deus é espírito”, disse ele à mulher samaritana, de acordo com o Evangelho de João (4.24). Assim, Deus é uma realidade superior à vida simplesmente terrena. Por isso, o ser humano só pode se aproximar dele espiritualmente, isto é, pela adoração.
“Eu e o Pai somos um”, afirmou Jesus para os judeus de sua época, ainda segundo o Evangelho de João (10.30). O Pai e Jesus, Seu Filho, possuem um relacionamento eterno e indivisível. Por isso, a Igreja irá confessar que Deus é triúno: Deus é Pai, Filho e Espírito Santo. O Deus triúno trabalha para a nossa salvação: o Pai enviou Jesus Cristo ao mundo. Jesus Cristo morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para nos dar vida nova. O Espírito Santo nos leva a crer em Jesus e, a partir dessa fé, passa a habitar em nós, confirmando que somos filhos de Deus (Romanos 8.16).
A Reforma Protestante afirmou que Deus se manifesta por meio de Sua Palavra. De acordo com Lutero, Deus faz tudo por meio de sua palavra.[1] Daí, a importância da pregação bíblica para que o cristão conheça quem é Deus. Sendo assim, que outros exemplos na Bíblia podem nos dar lições sobre o conhecimento de Deus em nossa vida? O profeta Oséias trata dessa questão. Vamos ler os seguintes textos: Oséias 4.6; 5.15 – 6.6. A partir deles, quero refletir com vocês sobre o seguinte tema: "O que significa conhecer Deus?"
1. CONHECER DEUS É MAIS DO QUE DESEJAR CONHECÊ-LO
O profeta Oséias viveu no reino de Israel, ao norte da Palestina, durante o reinado de Jeroboão II (Oséias 1.1; 2Reis 14.23-29). Nessa época, o povo adorava Iavé, o SENHOR, o Deus de Israel, mas também cultuava outros deuses (Oséias 4.17; 14.8). Baal, um deus associado à chuva, era um desses (Oséias 2.13; 13.1). Assim, o que Iavé fazia por Israel era atribuído a Baal (Oséias 2.8).
Quando Oséias ameaça seus ouvintes com o castigo, eles logo respondem com uma declaração de fé em Deus aparentemente sincera, de que a solução para eles era buscar conhecer a Deus (Oséias 5.15 – 6.3). Mas, apesar do que diziam, Deus lhes fala: “Porque o vosso amor é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa” (Oséias 6.4).
É importante que nosso conhecimento de Deus não fique apenas em palavras sobre o desejo que temos de conhecê-lo. As pessoas costumam dizer que acreditam em Deus. Só que acreditar que Deus existe e que pode fazer algo por nós não garante que o conheçamos. Israel dizia: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao SENHOR (...) ele descerá sobre nós como a chuva (...)” (Oséias 6.3). Mas o profeta exigia deles algo mais.
2. REJEITAR A PALAVRA DE DEUS É REJEITAR CONHECER DEUS
Deus, através de Oséias, diz ao povo que eles estão sendo destruídos por falta de conhecimento (Oséias 4.6). E por que lhes faltava o conhecimento? O profeta diz que os sacerdotes rejeitaram a Lei de Deus. Faltava a Israel o conhecimento da Palavra de Deus que o sacerdote deveria ensinar. Nela, o povo aprenderia a adorar a Deus e a agir de acordo com sua vontade (Oséias 4.9-10). No Novo Testamento, Paulo irá dizer: “Qual, pois, a razão de ser da lei? Foi dada por causa das transgressões, até que viesse o descendente a quem se fez a promessa (...)” (Gálatas 3.19). Através da Lei, Deus quer prevenir o seu povo contra o pecado e também revelar o Salvador, Jesus Cristo. Através da palavra de Cristo, recebemos o evangelho da salvação (Romanos 10.13-17).
Assim, conhecer Deus significa conhecer Sua Palavra, isto é, a Lei e o Evangelho. A Lei revela que somos pecadores e precisamos da graça de Deus. O Evangelho nos anuncia que somos salvos do pecado através da obra de Cristo (Romanos 3.19-28). Infelizmente, o Israel de então permaneceu longe da Lei de Iavé e o resultado foi esse: atacados pelo povo assírio, morreram ou tornaram-se escravos (2Reis 17, especialmente v. 22 e 23).
3. CONHECER DEUS SIGNIFICA DEMONSTRAR MISERICÓRDIA COMO SUA PALAVRA RECOMENDA
Israel, na época de Oséias, oferecia sacrifícios ao seu Deus (Oséias 6.6; 8.13). Mas Iavé, o SENHOR, não os aceitava, pois não vinham acompanhados do conhecimento de Deus. Este conhecimento, requerido por Deus na palavra do profeta, é a misericórdia. A palavra hebraica para misericórdia é hesed[2], que pode também ser traduzida por amor[3] e comprometimento[4]. Conhecer Deus é amar Deus e, portanto, comprometer-se com a Palavra de Deus. Lemos isso em Deuteronômio 6.5-6: “Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração”.
Conhecer Deus é também amar o próximo e comprometer-se com ele. Em Levítico 19.18 está dito: “Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o SENHOR”. Deus é conhecido e reconhecido quando amamos o próximo e nos comprometemos com ele.
O profeta Oséias estava reagindo contra algo muito diferente da misericórdia, do amor e do comprometimento desejados por Deus: “O que prevalece é perjurar[5], mentir, matar, furtar e adulterar, e há arrombamentos e homicídios sobre homicídios (...) Como hordas de salteadores que espreitam alguém, assim é a companhia dos sacerdotes, pois matam no caminho para Siquém; praticam abominações” (Oséias 4.2; 6.9).
Temos demonstrado conhecimento de Deus, mostrando misericórdia e comprometimento em nossos relacionamentos?
CONCLUSÃO
Aprendemos com o profeta Oséias que conhecer Deus não é apenas desejar conhecê-lo, mas encontrá-lo em sua Palavra. A Palavra de Deus revela a vontade de Deus para nós. Nesta Palavra reconhecemos que Deus deseja de nós amor e comprometimento uns para com os outros. Que Deus nos ajude a viver assim. Amém!
Notas:
[1] JUNGHANS, Helmar. Temas da teologia de Lutero, p. 17.
INTRODUÇÃO
Uma pergunta importante deve estar presente durante toda a vida de um cristão: “Quem é Deus?” Mais do que uma questão filosófica, essa pergunta tem a ver com aquilo que faz de alguém um cristão realmente. Jesus deu respostas fundamentais. “Deus é espírito”, disse ele à mulher samaritana, de acordo com o Evangelho de João (4.24). Assim, Deus é uma realidade superior à vida simplesmente terrena. Por isso, o ser humano só pode se aproximar dele espiritualmente, isto é, pela adoração.
“Eu e o Pai somos um”, afirmou Jesus para os judeus de sua época, ainda segundo o Evangelho de João (10.30). O Pai e Jesus, Seu Filho, possuem um relacionamento eterno e indivisível. Por isso, a Igreja irá confessar que Deus é triúno: Deus é Pai, Filho e Espírito Santo. O Deus triúno trabalha para a nossa salvação: o Pai enviou Jesus Cristo ao mundo. Jesus Cristo morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para nos dar vida nova. O Espírito Santo nos leva a crer em Jesus e, a partir dessa fé, passa a habitar em nós, confirmando que somos filhos de Deus (Romanos 8.16).
A Reforma Protestante afirmou que Deus se manifesta por meio de Sua Palavra. De acordo com Lutero, Deus faz tudo por meio de sua palavra.[1] Daí, a importância da pregação bíblica para que o cristão conheça quem é Deus. Sendo assim, que outros exemplos na Bíblia podem nos dar lições sobre o conhecimento de Deus em nossa vida? O profeta Oséias trata dessa questão. Vamos ler os seguintes textos: Oséias 4.6; 5.15 – 6.6. A partir deles, quero refletir com vocês sobre o seguinte tema: "O que significa conhecer Deus?"
1. CONHECER DEUS É MAIS DO QUE DESEJAR CONHECÊ-LO
O profeta Oséias viveu no reino de Israel, ao norte da Palestina, durante o reinado de Jeroboão II (Oséias 1.1; 2Reis 14.23-29). Nessa época, o povo adorava Iavé, o SENHOR, o Deus de Israel, mas também cultuava outros deuses (Oséias 4.17; 14.8). Baal, um deus associado à chuva, era um desses (Oséias 2.13; 13.1). Assim, o que Iavé fazia por Israel era atribuído a Baal (Oséias 2.8).
Quando Oséias ameaça seus ouvintes com o castigo, eles logo respondem com uma declaração de fé em Deus aparentemente sincera, de que a solução para eles era buscar conhecer a Deus (Oséias 5.15 – 6.3). Mas, apesar do que diziam, Deus lhes fala: “Porque o vosso amor é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa” (Oséias 6.4).
É importante que nosso conhecimento de Deus não fique apenas em palavras sobre o desejo que temos de conhecê-lo. As pessoas costumam dizer que acreditam em Deus. Só que acreditar que Deus existe e que pode fazer algo por nós não garante que o conheçamos. Israel dizia: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao SENHOR (...) ele descerá sobre nós como a chuva (...)” (Oséias 6.3). Mas o profeta exigia deles algo mais.
2. REJEITAR A PALAVRA DE DEUS É REJEITAR CONHECER DEUS
Deus, através de Oséias, diz ao povo que eles estão sendo destruídos por falta de conhecimento (Oséias 4.6). E por que lhes faltava o conhecimento? O profeta diz que os sacerdotes rejeitaram a Lei de Deus. Faltava a Israel o conhecimento da Palavra de Deus que o sacerdote deveria ensinar. Nela, o povo aprenderia a adorar a Deus e a agir de acordo com sua vontade (Oséias 4.9-10). No Novo Testamento, Paulo irá dizer: “Qual, pois, a razão de ser da lei? Foi dada por causa das transgressões, até que viesse o descendente a quem se fez a promessa (...)” (Gálatas 3.19). Através da Lei, Deus quer prevenir o seu povo contra o pecado e também revelar o Salvador, Jesus Cristo. Através da palavra de Cristo, recebemos o evangelho da salvação (Romanos 10.13-17).
Assim, conhecer Deus significa conhecer Sua Palavra, isto é, a Lei e o Evangelho. A Lei revela que somos pecadores e precisamos da graça de Deus. O Evangelho nos anuncia que somos salvos do pecado através da obra de Cristo (Romanos 3.19-28). Infelizmente, o Israel de então permaneceu longe da Lei de Iavé e o resultado foi esse: atacados pelo povo assírio, morreram ou tornaram-se escravos (2Reis 17, especialmente v. 22 e 23).
3. CONHECER DEUS SIGNIFICA DEMONSTRAR MISERICÓRDIA COMO SUA PALAVRA RECOMENDA
Israel, na época de Oséias, oferecia sacrifícios ao seu Deus (Oséias 6.6; 8.13). Mas Iavé, o SENHOR, não os aceitava, pois não vinham acompanhados do conhecimento de Deus. Este conhecimento, requerido por Deus na palavra do profeta, é a misericórdia. A palavra hebraica para misericórdia é hesed[2], que pode também ser traduzida por amor[3] e comprometimento[4]. Conhecer Deus é amar Deus e, portanto, comprometer-se com a Palavra de Deus. Lemos isso em Deuteronômio 6.5-6: “Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração”.
Conhecer Deus é também amar o próximo e comprometer-se com ele. Em Levítico 19.18 está dito: “Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o SENHOR”. Deus é conhecido e reconhecido quando amamos o próximo e nos comprometemos com ele.
O profeta Oséias estava reagindo contra algo muito diferente da misericórdia, do amor e do comprometimento desejados por Deus: “O que prevalece é perjurar[5], mentir, matar, furtar e adulterar, e há arrombamentos e homicídios sobre homicídios (...) Como hordas de salteadores que espreitam alguém, assim é a companhia dos sacerdotes, pois matam no caminho para Siquém; praticam abominações” (Oséias 4.2; 6.9).
Temos demonstrado conhecimento de Deus, mostrando misericórdia e comprometimento em nossos relacionamentos?
CONCLUSÃO
Aprendemos com o profeta Oséias que conhecer Deus não é apenas desejar conhecê-lo, mas encontrá-lo em sua Palavra. A Palavra de Deus revela a vontade de Deus para nós. Nesta Palavra reconhecemos que Deus deseja de nós amor e comprometimento uns para com os outros. Que Deus nos ajude a viver assim. Amém!
Notas:
[1] JUNGHANS, Helmar. Temas da teologia de Lutero, p. 17.
[2] חֶסֶד
[3] A Bíblia de Jerusalém, p. 1723.
[4] KIRST, Nelson et.alii. Dicionário hebraico-português e aramaico-português, p. 73.
[5] Perjurar: jurar falso; quebrar o juramento. Cf. http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues. Acesso em 03 de outubro de 2009.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista. São Paulo: Paulus, 1985. 2366 p.
A BÍBLIA SAGRADA: ANTIGO E NOVO TESTAMENTO. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. 2. ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.
JUNGHANS, Helmar. Temas da teologia de Lutero. Trad. Ilson Kayser, Ricardo W. Rieth, Luís M. Sander e Letícia Schach. São Leopoldo: Sinodal, 2001. 188 p.
KIRST, Nelson et.alii. Dicionário hebraico-português e aramaico-português. 16. ed. São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2003. 305 p.
http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues. Acesso em 03 de outubro de 2009.
[3] A Bíblia de Jerusalém, p. 1723.
[4] KIRST, Nelson et.alii. Dicionário hebraico-português e aramaico-português, p. 73.
[5] Perjurar: jurar falso; quebrar o juramento. Cf. http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues. Acesso em 03 de outubro de 2009.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista. São Paulo: Paulus, 1985. 2366 p.
A BÍBLIA SAGRADA: ANTIGO E NOVO TESTAMENTO. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. 2. ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.
JUNGHANS, Helmar. Temas da teologia de Lutero. Trad. Ilson Kayser, Ricardo W. Rieth, Luís M. Sander e Letícia Schach. São Leopoldo: Sinodal, 2001. 188 p.
KIRST, Nelson et.alii. Dicionário hebraico-português e aramaico-português. 16. ed. São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2003. 305 p.
http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues. Acesso em 03 de outubro de 2009.
2 comentários:
Diante de tal mensagem, lembrei-me do Salmo 119, onde o autor expõe sua paixão pela Palavra/ Ensinos/ Lei do Senhor. Outra questão é que para conhecermos alguém precisamos de intimidade e convivência, relação de diálogo, obtida através da leitura e da oração como vias principais.
Posso dizer que o nosso Deus é tremendo.
Olá Ruben!!!
Muito bom este seu estudo. Tomei a liberdade de publicá-lo no meu blog, claro, com todas as fontes citadas. hehehe.
Um grande abraço e parabéns pelo estudo.
Marcos Vichi
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