"Então, falando ele estas coisas em sua defesa, Festo disse em alta voz:
Estás louco, Paulo! As muitas letras te levam à insanidade!"
(Atos dos Apóstolos 26.24)

domingo, abril 20, 2008

Jesus é ou representa a verdade?

Não sei no momento, sinceramente. Há uma diferença entre dizer que Jesus é a verdade e representa a verdade.

O que se quer expressar é que Jesus é o crivo da verdade quando se diz que ele é a verdade. Jesus é o paradigma na solução do problema da existência humana no mundo se é certo que a religião se ocupa dessa matéria, como a filosofia, embora em outra perspectiva. Nenhuma verdade sobre o ser humano é consistente se não passa na avaliação das palavras que se atribuem a Jesus, acompanhadas dos testemunhos que se dão a respeito dele na literatura do Novo Testamento pois. Cabem duas perguntas sobre essa possibilidade de interpretação da figura de Jesus entre muitas outras: 1) Os testemunhos do Novo Testamento referentes a Jesus necessariamente coincidem com a percepção que ele tinha de si próprio? 2) As palavras e ensinamentos de Jesus poderiam sintetizar definitiva e exclusivamente todas as possibilidades de realização histórica e existencial da vida humana, sendo ele mesmo homem, submetido aos limites de percepção da realidade característicos da condição dos humanos portanto?

A verdade se expressa de muitas maneiras, em vários lugares e tempos, através de várias pessoas, concorrendo para a perpetuação da vida, em geral, e da existência humana, em particular, conquanto inalcançável uniformemente, se Jesus a representa por outro lado. Ele seria um divulgador da verdade, mas sem a reduzir ou monopolizar. Buda, Mohammed, Moisés, Lao-Tsé, Sócrates, filósofos, poetas, romancistas, cientistas, anciãos de tribos indígenas ao redor do mundo seriam todos divulgadores da verdade em sua pluralidade e historicidade. A verdade seria reconhecida naquilo que promovesse a vida em todas as suas formas, já que a vida é tudo o que temos concretamente. Duas perguntas podem ser feitas aqui: 1) A preservação da vida constituiria o critério mais elevado acerca da verdade? 2) A pluralidade dá conta da busca do ser humano pelo fundamento último do seu ser?

Passo a bola...

7 comentários:

Anônimo disse...

Qual a razão desssa dicotomia? No Ocidente pensa-se ser e estar como irmâs siamesas. Imagino que por memorial, Cristo representa; mas por existencialismo, Cristo é a Verdade. essa mesma Verdade que me libertou e te libertou, no sentido de que, podemos escolher agora, nossas amarras.
Falei besteira?!

Anônimo disse...

Ruben, acho que no fundo, responder a tais questões é escolher se concordamos ou não com um sistema fechado em si mesmo. Concordar que o Cristo original está nas escrituras dá uma autoridade absoluta a estas. Daí escolhemos como vivemos neste sistema... Se entendemos que pode haver um Cristo "por detrás" das Escrituras, um Cristo que seria inalcançável em sua totalidade, concordamos em viver num sistema mais aberto e menos absoluto. Abrimos então o caminho rumo a pluralidade. A questão que aparece primeiro pode ser respondida positivamente se acreditamos de forma absoluta no que está escrito, mas se consideramos num Cristo diferente do que está descrito nos Evangelhos então podemos dizer que este Cristo não tem como resumir toda nossa possibilidade de realização, mas resumiria apenas aquelas dos que assim o descreveram naquele determinado momento da história.

A vida deve de fato ser o critério mais elevado acerca da verdade, isto pode significar também que qualquer verdade que queira se colocar acima da vida deve ser rejeitada.

A pluralidade não dá conta não... acho que ela em uma de suas facetas vai rejeitar qualquer fundamento último do sentido da vida humana, em outra de suas facetas ela negará a si própria e acolherá uma verdade absoluta que aceitará um fundamento último do existir.
Um salto de fé nessa história toda é de fato um salto mortal, não acha?

acho interessantíssima essa conversa,

grande abraço,

Pedro.

Fábio Aguiar disse...

Também quero dar meu pitaco hehehe. Considero que o relato bíblico é um esforço humano para relatar a manifestação da Verdade, proveniente de Deus para os cristãos. O que lemos na Bíblia são indícios deste absoluto, que na verdade escapa de nossa compreensão e capacidade de reflexão.

Não entendi bem a afirmação do Pedro - "Um salto de fé nessa história toda é de fato um salto mortal" -, mas acho que o salto de f´r é necessário para podermos assumirmos a Verdade manifesta em Cristo.

Aqui surgiu uma dúvida em meu discurso, parecida com a sua rubem: "Será que o Cristo é a manifestação da Verdade absoluta, ou ele se deixa macular pela limitação humana?

Bem fico por aqui por enquanto. Vou pensar mais e volto dpeois hehehe. Abraço Rubem

Anônimo disse...

Caro Fábio,
quando falei do "salto de fé" como salto mortal quis justamente fazer referência a como por meio da fé nós morremos com Cristo... mas se cremos na ressurreição... hehuehe, não é só salto mortal...

um pouco de humor sempre é bom,

abraços,
Pedro.

Anônimo disse...

Ruben,
curti muito a sua aula hoje lá em ITA. Vou ver se dá pra ficar até o fm do trimestre.

Bem legais as questões que naturalmente vão aparecendo. Você "tem mesmo uma paciência de Jó", huwhuee...palavras do Jakler...hehuehe

Vamos continuar as conversas por aqui?

Comenta mais sobre a questão levanta aqui na postagem...

abração

abstrato de tomate disse...

Num de seus livros, que eu lia ontem, o linguista José Luiz Fiorin, cita um pensador chamado Lotman, cuja obra desconheço, mas que diz: "o mito é incompatível com a metáfora, o mito não representa, é".

Sabendo da proximidade entre pensamento míticos e religiosos talvez isso dê algum fôlego a discussão.

abstrato de tomate disse...

e quanto a verdade na preservação da vida, me parece que a verdade seria a preservação do universo, sendo uma vida particular apenas uma centelha que pisca num instante ínfimo do ponto de vista do universo e extenso do ponto de vista da centelha. E sabendo que na natureza nada se cria ou se perde, tudo se transforma, ie, uma forma de vida não se finda na morte, apenas se funda em outras, me parece que a preservação da vida carece de carácter metáfisico, mas sim possui carácter moral e ético, tão-somente e não menos importante.

E quanto a outra questão, a unidade pede intensão, a pluralidade pede extensão, e a totalidade, que funde toda pluralidade, numa só unidade, pede intensão e extensão, ie, exige que se seja, ao mesmo tempo, vasto e específico, tarefa difícil, talvez apenas possível a um ser oniciente.