"Então, falando ele estas coisas em sua defesa, Festo disse em alta voz:
Estás louco, Paulo! As muitas letras te levam à insanidade!"
(Atos dos Apóstolos 26.24)

domingo, junho 24, 2007

Um gato abandonado...

Ele apareceu de repente, saído das grades do estacionamento do Extra Boulevard. Ele miou para mim. Voltei e fiz um afago em sua cabecinha. Difícil esquecer aquele olhar, ao mesmo tempo inocente e ávido. Estava um pouco sujinho. Gato de rua...

Prossegui em meu caminho, voltava da igreja para casa. Ele ficou lá. Um turbilhão de pensamentos inundou a minha cuca! Como eu quis ter condições de levar aquele gatinho preto e branco para casa! Fiquei pensando em como esses animais de rua se viram para sobreviver. E tive uma grande esperança de que o Pai dos céus cuide deles. Como seria bom, todavia, se mais pessoas se dispusessem a adotá-los! São seres vivos, criados por Deus também, e que sentem falta de amor. Não sei se havia muitos animais abandonados no tempo de Jesus, porém acredito que, para ele ter falado de Deus cuidando das aves, um gatinho de rua, assustado e com fome, sensibilizaria bastante o nosso mestre galileu.

Você nunca pensou em adotar um animal de rua? Posso dizer com experiência que eles sabem retribuir amor com amor. Das três gatinhas que temos aqui em casa, duas eram gatas de rua e uma nasceu de outra gata de rua que tivemos há muito tempo. Amo todas elas, dão muita alegria para nós. Além delas, temos uma cadelinha. Mais festa ainda!

Quem sabe algo assim não mudaria a sua vida? Decerto isso só lhe faria bem. Os animais são nossos irmãos. Por que deixá-los largados ou maltratá-los? Podemos ajudar o Pai dos céus a "cuidar das aves". Pense nisso! Adote um animal de rua!

sábado, junho 16, 2007

As virtudes teologais [7]: O amor

A mensagem central do Novo Testamento é a de que Deus ama. Os Evangelhos Sinóticos, os Atos dos Apóstolos, as cartas paulinas, as cartas católicas, a literatura joanina e o Apocalipse proclamam que o amor de Deus pelo ser humano se humanizou em Jesus de Nazaré. Em Jesus, afirma-se, conhecemos que Deus é o sujeito primeiro e original do verbo amar.


Nos Sinóticos, vemos Jesus amando com o olhar, a compaixão, a surpresa, a ressurreição. Ele fitou e amou o jovem rico que se aproximara dele e alegara cumprir desde a juventude os mandamentos da lei de Moisés (Mc 10.21). Ao leproso que se arrastara até ele dizendo que podia curá-lo se quisesse, Jesus disse “Quero”, sem hesitar, sem exigir condição para que o fizesse (Mc 1.40-42). Uma mulher estrangeira chegara até ele pedindo por sua filha atormentada. Jesus recusou, dizendo aos seus discípulos que fora enviado a Israel. “Não fica bem tirar o pão dos filhos e atirá-lo aos cachorrinhos”, falou para ela Jesus. “Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa de seus donos”, ela respondeu. Certamente surpreso, Jesus exaltou a fé que a mulher demonstrou e curou-lhe a filha (Mt 15.21-28). Comovido pelo sofrimento de uma viúva da cidade de Naim, a qual acompanhava os que levavam o seu filho morto, Jesus aproximou-se dela e quis consolá-la: “Não chores!” Dando uma ordem ao jovem morto, este voltou à vida. Jesus, então, o reconduziu à sua mãe (Lc 7.11-18). Um jovem com vestes brancas ordenou às mulheres que encontraram o túmulo vazio na manhã da ressurreição de Jesus: “Ide dizer aos seus discípulos e a Pedro que ele vos precede na Galiléia. Lá o vereis, como vos tinha dito” (Mc 16.7). Os céus não se lembravam do Pedro que negara Jesus, apenas queriam Pedro perto de Jesus novamente.


Nos Atos, dentre os exemplos de curas, exorcismos e outros milagres operados por mãos de apóstolos como Pedro, João e Paulo, a história de Tabita sobressai como um registro ímpar de manifestação concreta do Deus-Amor. Essa mulher, que morava na cidade costeira de Jopa, e cujo nome é traduzido para o grego no texto, Dorcas, é chamada de “notável pelas boas obras e esmolas que fazia” (At 9.36). Ela adoeceu e morreu. Então, alguns discípulos mandaram chamar Pedro. Fico comovido com a cena das viúvas chorando e mostrando a Pedro as roupas que Tabita havia feito para elas (v. 39). É como se dissessem daquela discípula de Jesus: “Era ela que cuidava de nós! O que será de nós agora sem ela?” A ressurreição de Tabita não foi só um sinal miraculoso, mas um testemunho do quanto o amor expresso pela solidariedade reflete o cuidado do próprio Deus.


Nas Cartas Paulinas, o hino ao amor (1Co 13) fundamenta de modo magistral as recomendações do apóstolo a respeito do exercício dos carismas ou dons dados pelo Espírito Santo. Por mais extraordinário que seja o carisma que alguém manifesta, se nisso falta o amor, isso é nada, não tem nenhum proveito (v. 1-4). O que o amor é revela o objetivo dos carismas: eles devem proporcionar a paciência, o serviço, o respeito, a humildade, o perdão, a justiça, a fé e a esperança (v. 4-7). Os carismas terminarão, mas o amor permanecerá (v. 8). É a maior das virtudes teologais (v. 13).


Nas Cartas Católicas, afirma-se que a lei régia segundo a Escritura é “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Tg 2.8). Isso está em completo desacordo com uma postura discriminatória, que acolhe os ricos e rejeita os pobres, e que é condenada por Deus (v. 9). Recomenda-se que os cristãos demonstrem amor uns pelos outros, perdoem-se, pois “o amor cobre uma multidão de pecados” (1Pd 4.8).


A literatura joanina ensina que foi Deus quem primeiro nos amou (1Jo 4.19), tendo enviado seu único filho ao mundo, para que o mundo fosse salvo por ele (Jo 3.16-17). Como Cristo deu a vida por nós, devemos dar a vida pelos irmãos (1Jo 3.16); não apenas morrer por eles, mas socorrê-los em suas necessidades (v. 17). Somente nasceu de Deus e conhece a Deus aquele que ama, pois Deus é amor (1Jo 4.7-8, 20-21).


O livro do Apocalipse encerra o Novo Testamento animando os cristãos de Éfeso a recobrarem o amor que outrora possuíam, agora apagado, decerto por causa da perseguição (Ap 2.1-5). As tribulações passarão e o Deus-amor enxugará as lágrimas dos seus santos e com eles habitará para sempre (21.3-4).


Que Deus me ajude a ser aquele que devo ser, alguém que ama. Amém!