"Então, falando ele estas coisas em sua defesa, Festo disse em alta voz:
Estás louco, Paulo! As muitas letras te levam à insanidade!"
(Atos dos Apóstolos 26.24)

terça-feira, fevereiro 23, 2010

BATE-PAPO ENTRE AMIGOS SOBRE O FASCINANTE FENÔMENO ÓVNI

Enviei a mensagem abaixo por e-mail para o meu amigo Renato Jover. Ele me havia repassado um artigo que mencionava um encontro promovido pela Igreja Católica em 2009 para tratar de Astrobiologia.[1] Renato perguntava a minha opinião sobre o texto. Foi então que lhe escrevi as seguintes "letras", as quais publico com algumas correções e acréscimos:


Caro amigo Renato,

Desde que lembro, sou interessado em mistérios. Óvnis, casas mal-assombradas, lendas de assombração, essas coisas sempre me cativaram ("Arquivo X" é a minha série de TV favorita!). Quando adolescente, lia e conversava sobre essas coisas com avidez, não sem uma ponta de ceticismo. Todavia, geralmente deparava-me com pessoas nada dispostas a discutir esses assuntos, considerando-se talvez "adultas e esclarecidas demais" para dar lugar à imaginação e à fantasia.

Com isso, não quero dizer que se deva ser completamente crédulo quanto a coisas como essas, mas considerá-las como objeto para pesquisa e esclarecimento. O fenômeno dos objetos voadores não identificados já foi, parece-me, tratado com mais seriedade em anos passados, principalmente nos Estados Unidos. Entretanto, tenho a impressão de que vem perdendo gradativamente o interesse de pesquisadores sérios, quando muito limitando-se à divulgação, sem análise, de fotografias e a uma mescla com ideias de cunho (pseudo)religioso.

Não deixa de ser intrigante que, como alegam os meios de comunicação "especializados", ocorram tantos avistamentos todo ano e até hoje supostamente não tenha sido apresentada uma prova concreta de que estamos sendo visitados por seres de outros planetas ou de outras dimensões. O conhecimento que temos hoje do universo também dificulta bastante admitir a possibilidade de tanta atividade extraterrena em nosso planeta, uma vez que, mesmo com a (ainda impossível) capacidade de viajar à velocidade da luz, uma nave tripulada não conseguiria atravessar as distâncias descomunais no espaço até encontrar uma outra civilização. Sondas e sinais de rádio foram enviados e o silêncio lá fora permanece, nenhuma resposta.

Diante disso, pergunto-me: O que será o fenômeno óvni? Encontros casuais de pessoas com projetos (humanos) secretos de veículos, os quais, por serem até então desconhecidos do público, são vistos como naves extraterrestres, interpretação que ocultaria ainda mais esses segredos? Muito já se falou e especulou sobre isso. E faz certo sentido porque, nas décadas de 40 e 50, quando o fenômeno tornou-se mais recorrente nos EUA, ocorreram várias mudanças políticas no globo – a 2ª Guerra, a corrida armamentista, a Guerra Fria –, acelerando, inclusive, o desenvolvimento da tecnologia bélica e nuclear.

E o que dizer das abduções por alienígenas? Há profissionais de saúde que tentam entender o que ocorre com as pessoas que dizem ter sido levadas por seres estranhos e sofrido todo tipo de experimento biológico, inclusive sexual. É o caso, por exemplo, do pesquisador David Jacobs, professor de História americana do século XX na Universidade de Temple, na Filadélfia, o qual apresenta registros dos casos que investigou no livro A vida secreta. Tudo isso terá realmente acontecido? Ou seria uma atualização dos distúrbios da psiquê descobertos por Freud no início do século XX?

Não sei. Ultimamente, vem sendo falado que os organismos da Aeronáutica de alguns países da Europa abririam seus arquivos sobre relatos de óvnis para o público.[2] Será que realmente existirá lá material que não possa ser explicado? Eu gostaria de acreditar nos óvnis. Reconheço, de tudo que li, haver pessoas com credibilidade que não teriam por que inventar histórias sobre aparições no céu. Portanto, não descarto a possibilidade, embora esteja inclinado a pensar que haja explicações bem naturais para certos fenômenos "inexplicados".

Quanto à existência de vida em outros planetas, sei que é estatisticamente impossível que o nosso seja o único mundo habitado.[3] Os astrônomos vêm descobrindo evidências no universo da realidade de condições capazes de proporcionar o surgimento da vida. Pode ser que lá fora tenham florescido bem antes que nós outras civilizações (o universo tem cerca de 14 bilhões de anos!), mas estas encontrar-se-iam separadas da gente a tal ponto que o contato não seria (até o momento) viável.

Sobre a interpretação teológica cristã a respeito de prováveis outros mundos habitados por organismos inteligentes, podemos dizer, a partir da fé, que sua existência seria obra de Deus através do Logos (a Palavra) que estava com Deus antes que tudo existisse, conforme o Evangelho de João (1.1-4). Esse documento considera que Deus (entenda-se, o Deus judaico-cristão segundo a fé judaico-cristã) criou tudo por meio do Logos (o judaísmo falará da Sabedoria, a primeira obra do Criador; cf. Provérbios 8.22-31), o qual se tornou ser humano em Jesus de Nazaré.

Ficam as questões: o que os habitantes dessas civilizações demonstrariam como traços de sua origem divina? De que modo desenvolvem suas relações pessoais? Qual será a sua ética? Possuem também, em sua essência, a possibilidade e a facticidade da corrupção?

É possível que a humanidade ainda tenha que aguardar muito...

Um abração!!!!

Ruben


Notas:

[1] Sobre esse evento, cf. http://www.gaudiumpress.org/view/show/10690-vaticano-encerra-semana-de-astrobiologia. Acesso em em 22/02/2010.

[2] http://www.dw-world.de/dw/article/0,,4789740,00.html. Acesso em 23/02/2010; http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI1534451-EI301,00.html. Acesso em 23/02/2010.

[3] http://www.cienciamao.if.usp.br/aliens/drake.php. Acesso em 15/02/2010; http://ciencia.hsw.uol.com.br/programa-seti2.htm. Acesso em 15/02/2010.


Referências Bibliográficas:

JACOBS, David. A vida secreta: relatos cientificamente documentados de casos de sequestros por alienígenas. Trad. Carlos Araújo. Rio de Janeiro: Editora Rosa dos Tempos. 350 p. Coleção "Tendências do milênio", n. 3.

http://www.cienciamao.if.usp.br/aliens/drake.php. Acesso em 15/02/2010.

http://ciencia.hsw.uol.com.br/programa-seti2.htm. Acesso em 15/02/2010.

http://www.dw-world.de/dw/article/0,,4789740,00.html. Acesso em 23/02/2010.

http://www.gaudiumpress.org/view/show/10690-vaticano-encerra-semana-de-astrobiologia. Acesso em 22/02/2010.

http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI1534451-EI301,00.html. Acesso em 23/02/2010.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

HÁ TEMPO...

Em Eclesiastes 3.1-8, o famoso poema sobre o tempo, o autor (Qohélet) demarca a existência do ser humano entre vida e morte, ser e não-ser, alegria e dor. Ele faz isso com algumas ilustrações, nas quais está sempre contrapondo experiências opostas.

Assim é a vida da pessoa: ela nasce e morre; de igual modo, aquilo que é cultivado no campo: germina, amadurece e, então, mete-se-lhe a foice. Mas é triste que haja gente disposta a ceifar vidas ao invés de colher alimento. Mata-se mesmo! E não se percebe que as mãos também são capazes de curar. Gente destrói; todavia, gente é capaz de (re)construir.

Qohélet sabe que a vida, por mais dura que seja, não é só choro; mas também não é só riso. Ora sofremos, impotentes diante de situações que não podemos mudar, ora ficamos alegres, bons momentos nos encorajam a (re)fazer nosso caminho. Vamos recolher as pedras do campo e plantar a esperança! Encontrar os amigos e abraçá-los forte! Porém, se a distância for grande, dê um telefonema, mande uma carta, um e-mail...

Perder, ganhar... às vezes um, às vezes o outro. Mas é preciso ir em busca dos sonhos, de si mesmo. A prudência, todavia, nunca é demais! Entre rasgar as vestes de tristeza e vestir as melhores roupas para uma festa, um detalhe pode fazer toda a diferença. Não tem algo de bom para dizer? Então, fique calado!

Estão postas as alternativas: amar ou odiar; partir para a guerra ou levantar a bandeira da paz. E aí? Vai escolher o quê?

domingo, fevereiro 14, 2010

QUER APROFUNDAR A FÉ? FAÇA FACULDADE!

No dia 08 de fevereiro de 2010, enviei por e-mail o texto abaixo para o Richarles e o meu primo Marcos em resposta a um desejo expresso pelo primeiro de conversarmos mais sobre religião. Basicamente orientei-me pelo que ele escrevera no final da mensagem que remeteu para mim e o Marcos: "Rubinho, em termos de fé e igreja, assumi algumas idéias que me apareceram após refletir sobre um monte de coisas. Bem que me falaram um dia: Quer manter sua fé inabalada? Não faça faculdade!" Publico minha resposta a esses dois grandes amigos após fazer algumas correções.


Charlinho,

Isso que lhe falaram "um dia" (rsrs) é um equívoco bastante comum. Na minha opinião, por que há pessoas que acham que perderão a fé se forem estudar na universidade? Porque o fundamento da fé que essas pessoas têm encontra-se naquilo que é forma ou detalhe e não no essencial.

Explico: De acordo com a Bíblia, o mundo e o ser humano foram criados por Deus durante um período de sete dias. Todavia, desde o século XIX, a ciência vem desvendando os processos biológicos por meio dos quais a vida, em suas mais variadas formas, evoluiu no planeta. Além do mais, os estudos da geologia, da paleontologia e da astronomia mostram que o universo e o planeta passam por transformações constantes que se estendem por um período de mais ou menos 14 bilhões de anos (a Terra teria 4.5 bilhões).[1] Levou milênios até que o planeta adquirisse a forma que tem hoje, a vida explodisse em milhares de espécies diferentes e o ser humano surgisse sobre a terra (e houve várias espécies de hominídeos, por exemplo: Australopitecus afarensis, Homo erectus, Homo sapiens neanderthalensis, Homo sapiens sapiens).[2] A pergunta (equivocada) seria a seguinte: Qual dos dois está certo: a Bíblia ou a ciência?

Os textos bíblicos foram escritos durante um período de aproximadamente 1400 anos. Uma das passagens mais antigas que foram conservadas seria o cântico de Débora (Juízes 5), datado talvez do século XII a.C.[3] Os diferentes autores, fazendo registros da tradição oral de Israel, escreveram textos de certo modo independentes em uma variedade de gêneros literários (crônicas, hinos, provérbios, parábolas, contos, novelas, etc.) e fizeram-no para estabelecer as relações entre religiosidade(s) e identidade(s) social(ais). Ao longo do processo, alguns textos se perderam, outros receberam acréscimos, comentários ou tiveram parte do conteúdo removido ou corrigido de acordo com a perspectiva teológica de quem trabalhava com o texto.

Assim sendo, por exemplo, o livro de Gênesis possui dois relatos independentes e diferentes da criação do mundo: Gênesis, capítulo 1, versículo 1 ao capítulo 2, versículo 4, parte "a" ("Estas são as origens dos céus e da terra, quando foram criados") e Gênesis, capítulo 2, versículo 4, parte "b" ("No dia em que o SENHOR Deus fez a terra e os céus"), ao versículo 25. O primeiro descreve a criação como uma semana de trabalho que finaliza no descanso sabático e, assim, justifica a semana litúrgica judaica fazendo-a remontar ao "princípio", isto é, àquele momento que os chamados "mitos cosmogônicos" descrevem como de atividade dos deuses para dar origem àquilo que as sociedades que compõem essas narrativas reconhecem como norma. O segundo relato apresenta a criação como o surgimento de um oásis (jardim do Éden) no meio da terra seca após uma chuva. É curioso que, neste caso, o Deus de Israel é chamado pelo nome "Yahweh" (que geralmente aparece traduzido, por uma questão linguística que não vem ao caso, como SENHOR). E associa-se esse Deus à chuva e à fertilidade da terra, coisa que as populações mais primitivas da Palestina conheciam como obra de divindades locais, por exemplo, o deus Baal (cf. 1Reis 18.22-46).

Desse modo, a Bíblia não está interessada em relatar cientificamente o surgimento do universo e da vida. Trata-se de uma coletânea de registros (só posteriormente reunidos num único volume) de como o antigo Israel experimentou e compreendeu seu(s) Deus(es). E esses registros são feitos numa linguagem absolutamente enraizada no cotidiano daquelas populações: a linguagem da terra, da chuva, do culto, do mito. A maneira de compreender o universo mudou com o desenvolvimento científico moderno. A realidade não é mais constituída de três andares: os céus (morada dos deuses), a terra (morada dos homens) e o Xeol (morada dos mortos).[4] Sabemos que o nosso planeta é um entre milhares em nossa galáxia, que é uma entre bilhões no universo. Possuímos indícios de que a vida surgiu e desenvolveu-se gradativamente através de processos naturais de evolução. A maneira de "ler" a natureza hoje é outra, mas as indagações existenciais do ser humano permanecem. A ciência avança em demonstrar naturalmente o "como"; a fé pretende estabelecer o sentido, isto é, o "porquê".

Se a linguagem da Bíblia foi ultrapassada pela ciência, a experiência de Deus que ela testemunha recorrendo a variados encontros com o sagrado permanece necessária para a paz dos seres humanos consigo mesmos e com a natureza.

Um abraço, amigos!

Ruben


Notas:

[1] Para mais informações sobre o assunto, confira: http://wwo.uai.com.br/UAI/html/sessao_11/2009/10/26/em_noticia_interna,id_sessao=11&id_noticia=133416/em_noticia_interna.shtml. Acesso em 14/02/2010.

[2] Para mais informações sobre o assunto, confira: http://www1.folha.uol.com.br/folha/publifolha/ult10037u358172.shtml. Acesso em 14/02/2010.

[3] Para mais informações sobre o assunto, confira: http://www.bibliacatolica.com.br/historia_biblia/3.php. Acesso em 14/02/2010. http://www.metodista.br/ppc/caminhando/caminhando-16/o-conceito-de-justica-no-antigo-testamento-a-partir-de-juizes-5-9-12. Acesso em 14/02/2010.

[4] Para mais informações sobre o assunto, confira o verbete “Mundo” em http://www.bibliacatolica.com.br/dicionario/12.php. Acesso em 14/02/2010.